Fruto favorito do lobo-guará pode ajudar no tratamento do câncer de bexiga
18/06/2025
(Foto: Reprodução) Pesquisa da USP revela que substâncias da lobeira podem atuar no combate a tumores. Estudo busca unir interesse farmacológico e conservacionista. Lobeira (Solanum lycocarpum)
Thomaz Ricardo Favreto Sinani / iNaturalist
O fruto preferido do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), símbolo do Cerrado brasileiro, pode estar prestes a ganhar um novo e importante papel: o de aliado no tratamento do câncer de bexiga.
Pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP) descobriram que dois compostos encontrados na lobeira (Solanum lycocarpum) possuem uma potente ação antitumoral.
Os responsáveis pela descoberta são os professores Priscyla Marcato Gaspari e Jairo Kenupp Bastos, que vêm estudando os chamados glicoalcalóides solasonina e solamargina, substâncias naturalmente presentes nos frutos da lobeira.
Encapsulados em nanopartículas, esses compostos foram testados contra células tumorais de bexiga em diferentes modelos, desde culturas em laboratório até testes com camundongos, e apresentaram resultados promissores.
“Esses glicoalcalóides se destacam na atividade antitumoral, que ocorre principalmente devido à presença de açúcares na molécula, funcionando como uma espécie de ‘isca’ para células tumorais, que são altamente ávidas por açúcares. Além disso, esses compostos são encontrados em concentrações de até 1,5 % nos frutos desta planta, o que permite sua obtenção em grandes quantidades”, explica a pesquisadora.
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Além disso, de acordo com Priscyla, uma única lobeira pode produzir até 50 quilos de frutos por ano, o que a torna uma planta de grande potencial produtivo.
“Por se tratar de uma espécie de rápido crescimento e frutificação, caso sejam desenvolvidos produtos farmacêuticos a partir de seus frutos, o cultivo da lobeira poderá se tornar uma alternativa altamente viável para produção em larga escala e de forma sustentável”, diz.
Sinais de avanço de alerta
Nos testes com camundongos, os cientistas observaram sinais de toxicidade no fígado dos animais, o que indicou que a formulação atual ainda entra na corrente sanguínea e pode causar efeitos colaterais indesejados.
“Esse resultado sugere que a formulação foi capaz de atravessar as camadas mais profundas da bexiga, alcançando células tumorais localizadas nestas camadas, porém também entrou na corrente sanguínea, o que pode ter causado esse efeito adverso no fígado”, salienta.
Lobeira (Solanum lycocarpum)
Thomaz Ricardo Favreto Sinani / iNaturalist
“Nosso foco agora é ajustar a formulação para que ela atue de forma mais localizada, evitando alcançar a circulação sistêmica”, completa Priscyla.
O próximo passo da equipe é seguir com os estudos pré-clínicos, ajustando a formulação e validando a segurança dos compostos. Só então será possível avançar para testes clínicos em humanos. Embora os prazos ainda sejam incertos, a descoberta abre caminho para novas abordagens no combate ao câncer, especialmente com foco em terapias mais direcionadas.
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A lobeira é uma planta nativa do Cerrado e essencial para a fauna local. É o alimento preferido do lobo-guará, animal símbolo do bioma. Com o avanço das pesquisas científicas, cresce também a preocupação com uma possível exploração predatória da espécie.
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Luciano Lima/TG
Para evitar isso, os pesquisadores já estudam formas de cultivo sustentável. No Horto de Plantas da FCFRP-USP, o cultivo da lobeira tem se mostrado eficiente e de rápido crescimento, o que pode ser uma solução viável caso a demanda pelo fruto aumente futuramente com fins farmacêuticos.
“Estudos como esse são relevantes justamente por fomentarem essa cadeia produtiva, contribuindo para o desenvolvimento de estratégias adequadas de cultivo sustentável e preservação das espécies vegetais, alinhando interesse farmacológico e conservação ambiental”, reforça a especialista.
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