Escola com cursos de necropsia diz que proíbe alunos de registrar aulas; polícia apura vazamento de fotos de mortos em Guarulhos
14/07/2024
(Foto: Reprodução) Polícia quer identificar supostas alunas de curso que aparecem em fotos fazendo poses com mortos. Auxiliar de necropsia do IML de Guarulhos diz que imagens compartilhadas em grupo de mensagens eram para fins de 'estudos'. Fotos tiradas com corpos em Guarulhos
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A escola do ramo da necropsia Impera Cursos e Concursos, de São Paulo, afirmou nesta sexta-feira (12) que proíbe, por meio de contrato, que os alunos filmes ou tirem fotos de conteúdos relacionados com as aulas.
Uma escola que oferece cursos na área de necropsia em São Paulo afirmou nesta sexta-feira (12) que proíbe os alunos de registrarem o conteúdo das aulas. A Polícia Civil de Guarulhos, na Grande São Paulo, investiga um auxiliar de necropsia do Instituto Médico Legal (IML) por compartilhar fotos de cadáveres em grupos de mensagens com estudantes da unidade escolar, a qual também era professor.
O caso é apurado como vilipêndio a cadáver, o crime contra o respeito aos mortos. A polícia quer ouvir as mulheres que aparecem fazendo poses em algumas das fotos. Ao menos uma delas foi reconhecida como sendo aluna do curso onde o auxiliar trabalhou até 2022, segundo a escola.
"A Impera Cursos e Concursos informa que durante o ano de 2021 não foram enviados alunos para estágios devido à pandemia", informou por meio de nota. "O auxiliar de necropsia envolvido nas investigações jamais recebeu nenhum valor da escola a não ser pelas horas de aula ministradas em sala de aula. Todos os alunos da escola assinam um contrato aos quais são proibidos de fotografar ou gravar as aulas", afirmou.
O g1 apurou que a investigação da Polícia Civil foi aberta em 7 de novembro de 2023. Na época, uma denúncia ao Ministério Público Estadual apontou que o auxiliar de necropsia Eron Marcelo Reis acompanhava estudantes da escola.
Em nota ao g1, Eron disse que as imagens dos corpos foram compartilhadas em 2021 dentro de um grupo fechado e privado "composto por alunos formados no curso de Necropsia", no qual atuou como professor (veja abaixo a defesa na íntegra).
Nos grupos de mensagens, foram compartilhados vídeos, fotos e prints dos grupos que mostravam rostos e partes íntimas dos corpos. O funcionário foi identificado por meio de tatuagens e áudio.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, o caso é apurado pela Corregedoria da Polícia Civil, por meio de uma sindicância administrativa. Em abril deste ano, o 2º DP de Guarulhos encaminhou um relatório de investigação ao Poder Judiciário, mas o Ministério Público e a Justiça entenderam que outras pessoas envolvidas nas imagens devem ser ouvidas.
“A conduta do policial [auxiliar de necrópsia] em questão não condiz com as práticas da Superintendência de Polícia Técnico-Científica (SPTC), a qual instrui todos os seus agentes a atuarem em conformidade com a lei e em respeito às vítimas”, disse a SSP.
Imagem compartilhada em grupo de mensagens
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Depoimento
À polícia, o agente contou que desde 2021 era responsável técnico dos estágios da escola preparatória para concursos públicos do ramo da necropsia Impera Cursos e Concursos.
Segundo o relato dele, “variavelmente recepcionava alunos para realizarem estágios no Serviço de Verificação de Óbito (SVO)”, onde alunos acompanhavam o serviço. O Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) fica na mesma avenida, em um complexo com o cemitério da cidade e o Instituto Médico Legal (IML).
Segundo a prefeitura, é permitido ao SVO ceder campos de estágio definidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), conforme decreto municipal número 33.510, de 23 de junho de 2016.
À polícia, Eron informou que recebia valores em dinheiro da escola para acompanhar os alunos: a quantia de R$ 100 por estágio realizado. Sobre as postagens feitas no WhatsApp, Eron disse que realmente postava fotos e vídeos de cadáveres do SVO e que “tinha cuidado para que não apresentasse nestas postagens o rosto”, mas que seriam para fins de “estudos” em grupo apenas com estudantes.
A diretoria do IML não tinha conhecimento do caso, ainda segundo ele, ou a chefia da unidade.
A prefeitura de Guarulhos disse que "o funcionário citado não pertence aos quadros do Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), mas sim do Instituto Médico Legal (IML), do governo estadual".
O que diz a defesa do auxiliar
"O propósito primordial deste grupo era estritamente educacional, destinado ao aprendizado sobre anatomia e medicina legal, temas essenciais para a preparação de concursos públicos.
Esse grupo existiu por um breve período de tempo com o objetivo de auxiliar os alunos em seus estudos, em conformidade com as diretrizes da parceria estabelecida legalmente com a escola SUS/SVO. Em nenhum momento foram solicitados ou cobrados valores dos alunos. O valor mencionado de R$ 100,00 refere-se ao pagamento efetuado pela escola ao professor para que este atuasse como responsável técnico, conforme exigido pela referida parceria.
Fui surpreendido com as alegações de investigação, uma vez que minha intenção sempre foi proporcionar um ambiente de aprendizado seguro e ético, sem qualquer intenção de prejudicar qualquer pessoa. Desde o início, houve preocupação em proteger a identidade dos envolvidos, garantindo que nenhum rosto fosse identificado nas fotografias compartilhadas.
Estou colaborando integralmente com as autoridades competentes para esclarecer qualquer mal-entendido e estou à disposição para fornecer todos os demais esclarecimentos necessários."