Brasileiro que morreu em acidente com parapente no Paquistão chegou ao topo do Everest 3 vezes
05/07/2024
(Foto: Reprodução) Rodrigo Raineri, de 55 anos, era morador de São Pedro, no interior de SP. Amigos afirmam que atleta era preocupado com a segurança durante atividades. Rodrigo Ranieri, de 55 anos, morreu em acidente com parapente no Paquistão
Reprodução/Instagram
O brasileiro que morreu em um acidente durante um voo de parapente no Paquistão, na segunda montanha mais alta do mundo, era um alpinista experiente e se preocupava com a segurança, segundo amigos e familiares. Rodrigo Chaddad Raineri, de 55 anos, alcançou o topo do Monte Everest três vezes, o que consolidou seu nome na história do alpinismo brasileiro, segundo a Unicamp.
Morador de São Pedro, no interior de SP, Raineri era conhecido pela prática do montanhismo, além do parapente, principalmente por suas expedições ao Everest.
Em um perfil com 11 mil seguidores no Instagram, ele costumava postar nas redes sociais a rotina nos esportes de aventura. Raineri compartilhava fotos e vídeos dos saltos e escaladas, além de se descrever como apaixonado por viagens, natureza e tecnologia.
O atleta integrava um grupo de sete pessoas que seguiam para o acampamento base do K2, mas foi o único que decidiu praticar parapente. O paraquedas teria se rompido, o que causou a queda, informou à Agence France-Presse (AFP) o porta-voz da polícia local, Muhammad Nazir, de Shigar, área do acidente.
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Há três dias, ele postou um vídeo de outro voo também no Paquistão e disse que o K2 era o próximo destino do grupo. Rodrigo nasceu em Ibitinga (SP). Ele deixa esposa e um filho de 22 anos.
Esposa soube da morte pelo WhatsApp
Talita Campos Camargo, esposa do alpinista, contou que ele foi para a viagem em 15 de junho e voltaria em 31 de julho. Eles se falaram pela última vez por volta de 15h de quarta-feira (4), e costumavam conversar todos os dias.
"Toda hora, sempre que tinha conexão. Da ultima vez que a gente se falou, ele disse que iria dormir na montanha e que faria uma caminhada de cinco dias até chegar no Glaciar Baltoro [um glaciar na cordilheira Caracórum], mas acredito que ele não consegui chegar."
Ela recebeu a notícia durante a madrugada, por meio do guia que acompanhava o grupo. “Eu estava dormindo quando meu celular tocou e era um número do Paquistão. Eu sempre esperava mensagens ou ligação dele, mas não era ele", relatou.
Ela disse que o guia deu a notícia em inglês, o que dificultou a comunicação, mas ela entendeu que o marido estava em um hospital.
"Ele falou algumas coisas, eu não entendi e, então, pedi que ele me chamasse no WhatsApp para que a gente pudesse conversar melhor. Aí ele me falou que o Rodrigo tinha sofrido um acidente na montanha e que tinha falecido, que estava no hospital militar aguardando a liberação do corpo."
Segundo o guia, o corpo de Rodrigo foi levado para o hospital militar da cidade paquistanesa de Skardu.
A família afirma que tentou contato com o consulado para a liberação do corpo e aguardava resposta até esta publicação. "Tem várias pessoas mobilizadas para falar com o consulado. Ainda não conseguimos."
Rodrigo Raineri, que morreu em salto de parapente no Paquistão
Reprodução/EPTV
Entusiasta do montanhismo
A primeira mulher negra latino-americana a chegar ao topo do Monte Everest, Aretha Duarte, lamentou o ocorrido e afirmou que Rodrigo foi um dos responsáveis por promover o montanhismo no Brasil.
"Ele realmente sempre foi muito entusiasta, apaixonado pela prática da escalada, sempre incentivou, sempre fez questão de fazer essa atividade crescer, ser desenvolvida aqui no nosso país."
Aretha ressaltou que Rodrigo sempre se preocupou com a segurança. "Ele sempre foi muito focado na questão da segurança dessa prática, sempre foi muito técnico, tinha como premissa a segurança da prática de escalada, isso é indiscutível", completou.
"Quando a gente recebe uma notícia como essa, de que ele faleceu diante de um acidente que aconteceu lá, realmente a gente fica chateadíssima, porque a segurança era premissa para ele."
"Todo o corpo de montanhistas do Brasil com certeza está lamentando nesse momento, porque é uma pessoa que atua nesse segmento desde o início da atividade aqui no país", completou.
Unicamp lamenta
Em nota, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde Rodrigo se formou, lamentou o acidente. Ele ingressou no curso de Engenharia de Computação em 1988. Foi membro de um grupo de universitários praticantes de atividades de aventura.
"Em 1991, junto a Tomás Gridi Papp e outros praticantes, Rodrigo Raineri mobilizou a criação da parede de escalada em parceria com a Faculdade de Educação Física - FEF", comunicou a instituição, em nota.
"Tal criação levou à formalização do Grupo de Escalada Esportiva e Montanhismo da Unicamp (Geeu) em 1994, que permanece existindo até os dias atuais, promovendo a escalada entre praticantes e iniciantes, tanto para a comunidade acadêmica quanto para a comunidade externa", completou.
Ainda segundo a Unicamp, na década de 90 Raineri iniciou uma parceria expedições e conquistas no montanhismo junto a Vitor Negrete. Vitor morreu em um acidente no Everest em 2006, e seu nome batiza a parede de escalada presente na FEF.
"Rodrigo era conhecido por suas expedições ao Everest, tendo alcançado o topo três vezes, uma façanha rara que consolidou seu nome na história do alpinismo brasileiro."
"A Faculdade de Educação Física da Unicamp envia suas condolências aos familiares e amigos de Rodrigo Raineri."
A Secretaria de Turismo de São Pedro, onde Rodrigo morava, também lamentou o acidente. "Perdemos um grande atleta, um empresário à frente de seu tempo e um grande amigo e parceiro."
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